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21 outubro 2013

PCC investiu R$ 1 milhão para resgatar líderes


Megaoperação de promotores do Gaeco frustou plano para libertar criminosos entre eles, Nenê do Simioni e Boy, de Ribeirão




O Primeiro Comando da Capital investiu R$ 1 milhão num plano ousado para resgatar a cúpula da facção reclusa na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau. O dinheiro foi investido na aquisição de dez veículos – entre eles uma Mercedes e um Cherokee blindados –, aluguel de galpão e compra de um arsenal de guerra composto de fuzis, submetralhadoras e granadas, segundo o Ministério Público.


Para concretizar a ação, os integrantes em liberdade deveriam arregimentar “grande número de criminosos” fortemente armados para levarem a melhor em um confronto com a polícia. 
Na P2 de Venceslau, como o presídio é conhecido, estão concentrados os principais líderes da organização – entre eles Marcos William Herbas Camacho, o Marcola, Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, Júlio César Guedes de Moraes, o Julinho Carambola, e os ribeirão-pretanos Almir Rodrigues Ferreira, o Nenê do Simioni, e Rodrigo Boschini, o Boy.


A ação só não foi concretizada porque foi descoberta antes pelo Grupo de Atuação Especial de combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Presidente Prudente. Interceptações telefônicas e delação de testemunhas protegidas desvendaram minúcias da operação frustrada, conforme denúncia encaminhada à Justiça no mês passado.


Investigação dos promotores identificou os 175 principais líderes da facção no Estado. Todos, entre eles sete chefões de Ribeirão, são acusados por formação de quadrilha armada, associação para o tráfico de drogas e de armas.


Os promotores apuraram que o resgate, apelidado de “caminhada do cachorro quente”, era coordenada pelo preso Roberto Soriano, o Tiriça, com o auxílio de três homens de confiança. Os grampos deixam claro que, apesar de a facção controlar o tráfico de dentro da penitenciária, a principal preocupação dos líderes entre abril de 2010 e março de 2012 era com o plano de resgate, que os colocaria em liberdade.
Na gravação de 9 de abril de 2010, Tiriça diz a Gegê do Mangue: “Referente à caminhada do cachorro quente, vou estar puxando esse bonde [coordenar os preparativos] pra resolver isso logo”.


Cinco meses depois, o mesmo detento avisa numa teleconferência que já chegaram 8 fuzis AR-15 para o “hot dog” [resgate]. Na ligação, o preso orienta um comandado a arrumar duas ou três pessoas com espírito de liderança porque já tem “dez veículos na mão”. O preso lembra que, na lista do material, não pode faltar “pelo menos uns quatro ou cinco alicates de pressão para cortar grades e trancas”.


Em outra ligação, um dos líderes ordena um comparsa da rua que suborne um PM para descobrir qual objetivo de uma operação do Batalhão do Choque em Presidente Venceslau. Dias depois, em conversa com Gegê do Mangue, Tiriça conclui que a PM só pode estar ali fazendo aquela megaoperação na penitenciária porque descobriu a existência do resgate. 
“A ação do Choque está acontecendo por irresponsabilidade de uma pessoa que perdeu uma carta com as informações sobre o plano de resgate”, diz.


Missão


Resgatar integrantes, principalmente os presos em “missão da facção”, é um dos principais objetivos do Primeiro Comando da Capital, afirma o Ministério Público Estadual.


A megaoperação comandada pelo Gaeco frustrou também o resgate de um dos líderes, possivelmente Alexandre Cardozo da Silva, o Bradock, preso em 2006 durante ataques às forças de segurança do Estado. Ele deveria ser resgatado no 29 de março do ano passado, quando fosse ao Fórum de Sumaré para uma audiência.


O ribeirão-pretano Rodrigo Aparecido Ponce Marto, o Babão, foi um dos recrutados para participar do crime que acabou sendo frustrado por policiais da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota).


No dia 25 de março, em conversa grampeada com Rodrigo Zamarolli, o Brian, Babão fala sobre os preparativos da ação. Diz que está difícil conseguir um carro blindado, mas que já alugaram a chácara para “os irmãos” ficarem até o dia da ação. Combinam de levar mulheres e fazer um churrasco para disfarçar.


Na madrugada do dia do resgate, a Rota invadiu a chácara na região de Campinas e frustrou a ação do bando.


'Vida se paga com vida'


No mês de julho de 2011, os promotores de Presidente Venceslau descobriram que a cúpula do PCC determinou a alteração do estatuto da facção.


O artigo 18 do estatuto passou a prever que: “Todos os integrantes têm o dever de agir com serenidade em cima de opressões, assassinatos e covardia realizada por agentes penitenciários, policiais civis e militares e contra a máquina do Estado. Quando algum ato de covardia, extermínio da vida, extorsões que forem comprovadas estiverem ocorrendo na rua ou na cadeia por parte de nossos inimigos, daremos uma resposta à altura do crime. Se alguma vida for tirada com esses mecanismos pelos nossos inimigos, os integrantes do comando, que estiverem cadastrados na quebrada do ocorrido, deverão se unir e dar o mesmo tratamento que eles merecem. Vida se paga com vida e sangue se paga com sangue”.

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