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10 maio 2014
Câmara Limeira oferece trabalho à detentos
Caminho da ressocialização
I.R., detento do CR (Centro de Ressocialização) de Limeira, está desde o dia 22 trabalhando na Câmara de Limeira. Cumprindo pena por tentativa de homicídio, I. foi autorizado a prestar serviços gerais na Câmara, como jardinagem, manutenção e até auxilia nos serviços da recepção. A Câmara está negociando a abertura de mais duas vagas para detentos do CR.
Por meio de convênio, Legislativo pode chegar a ter três reeducandos
"Foi um presente de Deus". É assim que o reeducando I.R., 36, classifica o início do seu trabalho na Câmara de Limeira. I. cumpre pena no regime semiaberto no CR (Centro de Ressocialização) de Limeira e está autorizado a sair da unidade durante o dia, para trabalhar em horário comercial.
Atuando no Legislativo desde o dia 22, ele realiza serviços gerais, como jardinagem, manutenção e até auxilia nos serviços da recepção. I. foi transferido para o CR de Limeira há três meses e, desde que chegou na unidade, trabalha - anexo ao CR, existe um galpão onde os detentos trabalham para uma fábrica de brinquedos.
Desde a semana passada, ele foi designado para atuar na Câmara. "Eu prefiro trabalhar fora. É uma liberdade diferente. Eu não tinha contato com a rua, com as pessoas, e esse contato faz parte da nossa ressocialização. É muito importante", diz ele. "Todos os funcionários daqui me receberam muito bem, ainda estou aprendendo como funciona."
De segunda a sexta-feira, I. sai do CR, na região do Horto, e vai de ônibus até o TCU (Terminal Centro Urbano). De lá, pega uma nova condução que o leva até a Câmara. O trabalho começa às 8h30 e termina às 17h. Ao fim do dia de trabalho, ele retorna ao CR também de transporte público.
O primeiro dia de trabalho fora da unidade prisional foi emocionante. "Você sai, anda, vê pessoas. Fiquei emocionado. Me senti valorizado e privilegiado. Parecia que eu estava preso há 30 anos."
I. usa, obrigatoriamente, uma tornozeleira eletrônica cujo monitoramento é feito internamente pela administração do CR. "É muito importante conviver com as pessoas. Quando você está no regime fechado, você só vive naquele sistema, cercado de agentes e de presos, escutando as mesmas conversas. Têm pessoas ali que não querem mudar. Eu tenho expectativa de continuar trabalhando, ajudar a família e estudar."
PRISÃO
Morador de Tietê, I. foi preso em janeiro de 2011 e depois condenado a oito anos de prisão por tentativa de homicídio. No CR de Jaú, cumpriu pena em regime fechado durante dois anos e oito meses. Depois, naquela unidade, trabalhou para uma fábrica de calçados e, posteriormente, passou a auxiliar em serviços administrativos. Há três meses, foi transferido para Limeira.
Antes de ser preso, I. fazia faculdade de Educação Física, dava aulas de futebol para crianças carentes em um projeto social idealizado por ele, trabalhou na Secretaria de Esportes de Tietê e chegou a se filiar a um partido político para se candidatar a vereador - o que não chegou a acontecer. Antes, foi jogador de futebol e atuou pelo São Paulo, Ponte Preta, Ituano, Portuguesa Santista, e até em equipes na Espanha e Turquia. I. desistiu do futebol aos 30 anos quando a mãe dele adoeceu e a decisão foi uma só: voltar para Tietê e ficar ao lado da família. "Sempre estudei, sempre trabalhei, tenho um filho de 18 anos, eu era casado. Sempre fui uma pessoa tranquila."
Após a volta para Tietê e o término de seu casamento, I. se envolveu em um outro relacionamento. Em uma discussão na presença de familiares, acabou atingindo a mulher com golpes de faca, que não chegaram a provocar perfurações, segundo ele. "Foi um momento que me deu um branco. Hoje eu consigo falar sobre isso, mas antes eu não conseguia, chorava."
Trabalhar na Câmara foi como um recomeço. "Vou valorizar muito essa oportunidade. Muitos queriam estar no meu lugar, trabalhando aqui. Sou muito grato ao diretor do CR e aos funcionários daqui."
Quando terminar de cumprir sua pena, I. pretende retomar todos os sonhos e o futuro promissor que deixou para trás. "Tenho vontade de sair da prisão, de voltar a estudar. Quero fazer jornalismo e ser locutor de rádio. Nem todo mundo que está preso é uma má pessoa. Parece que eu parei no tempo."
CONVÊNIO
Em novembro do ano passado, a Câmara de Limeira firmou convênio com a Funap - Fundação "Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel" -, órgão vinculado à SAP (Secretaria de Administração Penitenciária), para absorver mão de obra do CR. Desde então, um preso passou a trabalhar no Legislativo.
Parte do salário recebido é depositado em uma poupança para o próprio interno e, a outra parte, ele pode retirar uma vez ao mês. "Compro um pouco de produtos de higiene e o resto mando para o meu filho", relata I.
No regime semiaberto, o preso pode sair do presídio para trabalhar durante o dia, deve voltar após o expediente e recebe até um salário mínimo, que é garantido por lei. Para cada três dias trabalhados, há um dia de remissão da pena. Todos os presos saem de tornozeleiras eletrônicas e são fiscalizados durante o serviço. Para que a saída para o trabalho seja autorizada, são levados em conta o tempo de prisão, bom comportamento e aptidão para a realização dos serviços.
A Câmara de Limeira já iniciou tratativas com a Funap para abrir mais duas vagas para detentos do CR. "Por meio desse convênio, a Câmara cumpre o seu papel, dá a sua contribuição para a ressocialização das pessoas. Além disso, é um serviço economicamente mais viável, já que não incidem encargos trabalhistas sobre essa mão de obra", avalia o presidente do Legislativo, Ronei Martins.
A prefeitura, por sua vez, também pretende firmar convênio com a Funap - a ideia é que os reeducandos atuem com serviços de capinação em Limeira.
Atualmente, o CR de Limeira conta com 199 presos. Destes, são 79 no regime semiaberto - todos estão trabalhando.
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