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30 julho 2017

Um herói de verdade - Marc de Souza


Quem é que quando criança, não quis ser algo ou alguém?
Quem é que desde criança não sonha com uma determinada profissão?
Quem é que quando criança, não brincou de exercer certas profissões?
Quem é que nunca sonhou em ser um super herói?
Eu não sei na sua época, mas na minha época de criança, brincávamos muito. E muitas de nossas brincadeiras tinham um pé na realidade, mas claro, regrada a muita imaginação.
Naquele mundinho fictício que criávamos, vivíamos grandes histórias, éramos grandes profissionais, às vezes, éramos grandes heróis.Tínhamos super força, voávamos como pássaros. Éramos bem sucedidos.
Em nossas brincadeiras, fomos “polícia e ladrão”. Fomos bombeiros, médicos, enfermeiros e engenheiros, professores, motorista e escritores. Fomos cantores e atores. Fomos sonhadores.
E conforme fomos crescendo, deixamos o heroísmo de lado e começamos a nos interessar por profissões.
Na escola quando a professora perguntava o que queríamos ser quando crescêssemos, tínhamos sempre a resposta na ponta da língua:
- Médico! - professora.
- Bombeiro!
- Policial!
- Engenheiro!
- Cantor!
- Rico, professora! - dizia o engraçadinho.
Mas todos nós, sem exceção, tínhamos uma profissão no coração.
Mas, uma coisa é certa, ninguém, nunca quis ser agente de segurança penitenciária. Ou estou errado?
Quem de nós, em nossa mais fictícia brincadeira, em nossas aventuras mais imaginativas possíveis, onde vivíamos grandes aventuras, viveu a vida de um agente penitenciário?
Quem de nós, no maior delírio criativo de nossa infância, conseguiu evitar uma fuga em massa em um presídio de segurança máxima? Ou, salvou nossos amigos e companheiros de trabalho das mãos de bandidos cruéis em uma sangrenta rebelião?
Quem de nós sempre sonhou em ser um grande agente penitenciário quando crescesse?
Quem?
Na nossa infância, fomos grandes profissionais. Grandes médicos. Bombeiros corajosos. Cantores famosos. Fomos a “polícia” e o “ladrão”, mas nunca, nem em nosso maior delírio, fomos agentes penitenciários.
E de repente, nos vemos ali, entrando por aquela porta de ferro espesso. Em um lugar cercado por uma grande muralha de tijolos que destoa da paisagem. Um lugar frio, triste, feio.
O som de cada porta batida à nossas costas, o tilintar das chaves e a penumbra do local nos mostra que estamos em um outro mundo. Mundo jamais imaginado por nós, nem quando éramos os grandes heróis da nossa imaginação.
Quando as grades são fechadas e nos vemos diante da realidade do local, onde somos meros homens normais em meio a superpopulação carcerária em um local onde homens são abandonados à própria sorte, muitas vezes amontoados como animais, varridos para baixo de um tapete pequeno, por uma sociedade que insiste em não os enxergar.
Quando nos vemos em um local com regras e leis próprias, leis e regras que não estão escritas em local algum, mas que todos respeitam e seguem.
Quando nos vemos diante da alta cúpula do crime, em meio às pessoas mais perigosas que a sociedade jamais viu, percebemos o quanto fomos inocentes em nossas brincadeiras.
Pois, por mais que viajássemos em nossa fértil imaginação, jamais poderíamos imaginar que existissem profissionais, homens e mulheres tão valorosos, tão corajosos. Homens e mulheres capazes de dar a vida por uma sociedade melhor. Por uma vida melhor. Pessoas anônimas, escondidas atrás das grandes muralhas, mas que fazem um serviço de suma importância para o meio em que vivem. Pessoas que não carregam uma arma no coldre, não possuem super força. Pessoas que não tem super poderes.
E é nesse momento que descobrimos o que é ser um profissional de sucesso, e mais, é nesse momento que descobrimos o que é ser um herói de verdade.
E que este herói tem um nome:
Agente de Segurança Penitenciária.



Coluna do Marc

Marc de Souza Agente Penitenciário,

Escritor e Diretor do Sifuspesp

2 comentários:

  1. Linda homenagem :) só tenho a agradecer afinal faltando poucos dias para minha aposentadoria saber que ainda existem pessoas como você Marc que reconhece nossos esforços e nossa Profissão pra mim é um orgulho fazer parte novamente da família Sifuspesp. Obrigada.

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  2. Obrigado pelo elogio. E quero deixar claro a você e a todos os companheiros de profissão, que, no que depender de mim, iremos sim, conseguir o reconhecimento que tanto merecemos. Pois meu trabalho não é só no ambiente prisional, mas também, procurando disseminar o respeito e a consideração que a nossa categoria realmente merece. Principalmente para a sociedade que ignora o nosso dia a dia e a nossa luta. Ignora nossas dificuldades, os nossos medos e o sofrimento de uma categoria que com pouco, faz muito.

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