PROFESSOR, HERÓI E LÍDER ALEXANDRE ROBERTO - Marcelo Augusto

Foto: JTNews

Marcelo Augusto
21/04/2020


Em setembro de 2006 iniciei minha carreira como agente penitenciário no CDP de Itapecerica da Serra, fazia poucos meses que um agente havia sido executado na porta de sua casa por criminosos. O CDP ASP Nilton Celestino tinha seu nome, uma homenagem ao combatente morto em batalha por um inimigo covarde.

O perigo iminente elevada a adrenalina de tal maneira que mal sabia se ia voltar para casa vivo. Muitos amigos foram agredidos e feridos. Sinceramente, não fazem ideia do que é ser agente penitenciário. Não demorou muito para eu comprar uma arma, pois o Estado não fornece, nem pelo risco que a profissão proporciona.

Nos anos de trabalho tive bons professores, e vou contar de um em especial, Alexandre Roberto, chefe da noite. Não demorou para eu se aproximar dele, tinha sede de conhecimento e o Alexandre tinha muito a ensinar, obtinha um tirocínio infalível em encontrar túneis e desmantelar planos de fuga dos presos. Na época, o que não faltava era túnel e ventada cortada. Mas, todos, mal começavam e já eram descobertos, uns começavam a projetar e já era tolhido pela equipe. Um trabalho de inteligencia conjunto e coordenado totalmente eficiente.

Um, dois, três, túneis descobertos na fase inicial. E eu, com meu professor, acabei me tornando perito nesse trabalho investigativo. Os presos odiavam quando o plano de fuga vinha por água a abaixo, fruto do trabalhando efetuado diuturnamente para proteger a sociedade que mal fazia conta do que passávamos.


Isso sem contar outros planos criminosos descobertos. Na frente sempre o batuta Alexandre Roberto, um líder nato com ouvidos sempre abertos para ouvir seus companheiros de trabalho e ensiná-los. Devo muito do conhecimento aos meus professores.

Morava no interior e, finalmente, retornei para casa em 2014. Decerto, um dia esperado por oito anos naquela escola, o CDP de Itapecerica da Serra. Garanto que passaria tudo de novo, valeu a pena.


O inesperado aconteceu numa quinta-feira , dia 12 de março de 2020, estava em casa no sofá quando peguei o celular para ativar o despertador meio aturdido de sono quando li uma mensagem acompanhada de uma foto do meu amigo Alexandre, dizia que foi executado com vários disparos de arma de fogo em frente a sua casa. O sono se foi, o sentimento de ódio e incertezas tomaram conta, olhava para ver se era inverdade, mas confirmei a trágica notícia. Não preciso falar que não dormi, fiquei dias remoendo na memória as lembranças do trabalho tentando imaginar como uma pessoa tão profissional poderia sofrer tão covardia. O falido sistema prisional reagiria noutro dia, todavia aguardava as duras medidas que seriam tomadas esperando coisas semelhantes a estados vizinhos quando um agente do Estado é executado. Mais um vez a decepção, sem ações.  Somos tratados como números ? Nem os assassinos foram presos, enquanto o governador dias depois foi ameaçado e podia contar com dezenas de policiais fazendo sua segurança na porta de casa.

Deve se perguntar porque o blog está de devagar nos últimos dias, a resposta é essa, por reflexão e lastimas de perder um amigo. Confesso que não é fácil. As coisas aos poucos vão retomando a anormalidade  com estigmas da profissão, um dia me disseram que quando optei em ser agente penitenciário, agora policial penal, jamais seria o mesmo porque o sistema me mudaria.

O Policial Penal Alexandre Roberto está ao lado de nosso Pai, nosso Senhor Jesus Cristo. Não tenho palavras suficientes para agradecer o aprendizado em vida, nem para dizer o quanto sentimos sua perda. Só posso dizer que jamais será esquecido e gostaria de dizer: - Obrigado!

" O que fazemos em vida ecoa pela eternidade " - Maximus