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07 agosto 2020

Três em cada quatro agentes penitenciários afirmam ter saúde mental afetada pela pandemia


Apenas 5% deles tiveram algum apoio institucional para lidar com as emoções, aponta estudo da Fundação Getúlio Vargas

O Globo
06/08/2020 - 11:18 / Atualizado em 06/08/2020 - 12:23Agente penintenciário Foto: Divulgação



RIO — O avanço do coronavírus nas penitenciárias do país tem afetado a saúde mental dos agentes e policiais que precisam trabalhar com a disseminação da doença e ainda encontram pouco apoio institucional para lidar com a situação.



Esses são os resultados da segunda fase de pesquisa com agentes penitenciários realizada pelo Núcleo de Estudos da Burocracia, da Fundação Getulio Vargas (NEB/FGV). O estudo foi feito com 613 profissionais em todas as regiões do Brasil, entre os dias 15 de junho e 1º de julho.

Segundo a pesquisa, 73,7% desses profissionais relatam ter a saúde mental afetada, mas apenas 5,1% receberam algum apoio.



O distanciamento/frieza e o medo com relação aos presos são os sentimentos mais comuns, respectivamente, para 49% e 47% dos respondentes e o medo de contrair o novo coronavírus foi predominante: 80% relataram temer a contaminação.

Durante a pandemia, os agentes prisionais relataram que houve mudança nas interações com os presos (85,3%) e nas dinâmicas de trabalho (80,4%), principalmente por conta do aumento de protocolos de higiene, distanciamento dos colegas de trabalho e aumento da carga de trabalho, por conta da redução dos servidores na ativa, que deixaram de trabalhar por estarem no grupo de risco.

"Se pensarmos na perspectiva deste trabalhador, a situação é muito crítica. Ele trabalha em um lugar sabidamente insalubre, com superlotação e já sob tensão na normalidade. Durante a pandemia, estas condições se agravam, gerando alto sofrimento, ansiedade e stress”, afirma Gabriela Lotta, uma das coordenadoras da pesquisa.


Tensões entre presos aumentaram


Na percepção de 82,2% dos agentes prisionais, as tensões entre presos aumentaram. A falta de contato com os familiares, de informações sobre o cenário real da pandemia, o medo de se contaminarem, a má alimentação e o isolamento estão entre os motivos descritos pelos agentes para o aumento dessa tensão.

A sensação de despreparo para lidar com a Covid-19 aumentou em relação à fase anterior, passando de 61% para 69% dos agentes. Segundo os autores, essa percepção pode estar relacionada com o avanço da pandemia nos presídios.

A maioria (87%) dos agentes penitenciários afirmou conhecer um colega de trabalho que foi diagnosticado com Covid-19, e 67,8% conhecem algum preso que contraiu a doença. Na primeira fase da pesquisa (realizada em abril), 54% dos agentes conheciam alguém contaminado pelo novo coronavírus.

“Estes dados mostram que o tamanho da contaminação dentro dos presídios deve ser ainda maior do que está sendo notificado. Os problemas clássicos de falta de dados e falta de transparência do sistema também aparecem de forma muito mais exacerbada durante a pandemia”, aponta Giordano Magri, outro coordenador da pesquisa.
Falta de EPIs e baixa testagem

O acesso a equipamentos de proteção individual aumentou em relação a abril, passando de 32,5% para 48,8% dos profissionais que alegam ter recebido EPIs para se proteger.


Ainda assim, mais da metade dos agentes continua sem receber o equipamento. Os níveis mais alarmantes de falta de equipamento estão na região Norte, onde apenas 26,3% dos agentes relatam ter recebido EPIs. O nível de treinamento para enfrentar a pandemia continua baixo: apenas 12,1% dos respondentes alegaram receber orientações formais para o enfrentamento do novo coronavírus.

Essencial para conter a disseminação da doença, apenas 23,2% dos profissionais das penitenciárias afirmam ter sido testados para a Covid-19.

Na região Sudeste, a situação é ainda pior: apenas 10% dos profissionais foram testados, o que pode estar contribuindo para uma subnotificação dos casos na região, segundo os pesquisadores.

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