Técnico de enfermagem morre de Covid semanas depois de começar nova carreira em hospital; 'Lutou até o fim', diz esposa
Jonatas Batista, de 37 anos, havia trabalhado na Santa Casa de Sorocaba (SP) por apenas quatro dias quando começou a ter sintomas da doença. Ele ficou 21 dias intubado, chegou a sair da UTI, mas teve uma parada cardíaca e não resistiu.
Por Júlia Martins, G1 Sorocaba e Jundiaí
10/04/2021 08h22 Atualizado 15/04/2021
A animação e a expectativa de Jonatas Batista, de 37 anos, em começar um novo capítulo na profissão foram interrompidas quando ele começou a ter sintomas da Covid-19 dias depois de ter iniciado um novo trabalho na Santa Casa de Sorocaba (SP).
Ele teve seu primeiro dia de plantão como técnico de enfermagem na unidade no dia 12 de fevereiro. Alguns dias depois, em 16 de fevereiro, começou a ter sintomas da doença, como febre, tosse e falta de ar.
"Ele tinha passado pelo médico e estava sendo medicado, mas não estava surtindo efeito. A falta de ar foi se agravando e ele chegou a sufocar. Foi aí que o levei para o Hospital Samaritano e ele ficou internado", explica a esposa, Alessandra Kátia da Silva Batista.
No dia seguinte, Jonatas foi transferido para um leito de UTI e precisou ser intubado. A partir daí, foram 21 dias de luta contra a doença. "Ele lutou muito, até o fim. No dia 17 de março, tiraram a sedação e ele acordou, saiu da ala Covid, foi para um outro leito de UTI e pôde receber visitas", diz.
No dia 18 de março, o técnico de enfermagem recebeu uma visita de Alessandra. Apesar de não conseguir falar, devido à traqueostomia, Jonatas passou bastante tempo com a esposa. Segundo ela, os médicos estavam confiantes no tratamento e na resposta do organismo do rapaz.
"O pulmão dele ainda estava bastante comprometido. E eu falei para ele ter paciência, para ser forte, que logo estaria em casa. Nessa hora, ele movimentou os lábios e disse 'amém'. Foi a última vez que conversamos", conta Alessandra.
3 de 6 Jonatas com a filha Isabela, de 11 anos — Foto: Arquivo Pessoal
Jonatas com a filha Isabela, de 11 anos — Foto: Arquivo Pessoal
De acordo com os médicos, nos dias seguintes, o rapaz se mostrou muito agitado e precisou ser sedado novamente. Porém, teve uma parada cardíaca e não resistiu.
"Os médicos me disseram que ele tinha muita chance de se recuperar. Que, de todos os pacientes que estavam na UTI, ele era o único com chances de sair. Tanto que a morte dele foi um espanto até para a equipe", explica a esposa.
'Amava a vida, amava viver'
Pai, marido, amigo e muitas outras "ocupações" faziam Jonatas ser querido por todos ao seu redor. Segundo a esposa, ele sempre tentava fazer os outros rirem, com um jeito brincalhão e animado de ser.
"Ele era união. Onde ele chegava, as pessoas se uniam e gostavam de estar perto dele. Ele tinha um brilho e uma energia muito grande. Para ele não tinha tempo ruim. Estava disposto a fazer qualquer coisa para alcançar os sonhos dele. Era uma pessoa muito iluminada, amava a vida e amava viver", afirma.
Jonatas começou a trabalhar no serviço público com 18 anos como agente de segurança penitenciário. Foram anos de dedicação e trabalho duro. Depois de um tempo, decidiu iniciar a faculdade de direito e sempre sonhou em ter o próprio negócio.
5 de 6 Última foto de Jonatas com a filha e a esposa em Sorocaba (SP) — Foto: Arquivo pessoal
Última foto de Jonatas com a filha e a esposa em Sorocaba (SP) — Foto: Arquivo pessoal
"Recentemente ele se formou, mas, antes disso, prestou a prova da Ordem e passou de primeira. Foram anos de estudo, de muita batalha. Ele se dedicou ao máximo e foi um dos melhores alunos do curso. Ele pretendia atuar na área, era o sonho dele ter o próprio negócio e fazer aquilo que ele se dedicou para estudar por cinco anos", conta Alessandra.
A exoneração no início do ano pegou Jonatas de surpresa. "Foi um baque muito grande para ele. Ele ficou muito abalado", diz a esposa. Sua única carta na manga era o certificado de técnico de enfermagem que havia conseguido antes de iniciar no serviço público.
"Ele resolveu voltar para a área da saúde, já que precisávamos de ajuda com as despesas familiares. E foi uma experiência muito importante para ele, porque estamos em uma pandemia, em um momento em que os hospitais estão precisando urgentemente de mão de obra, então ele estava feliz e animado", relembra.
A persistência, o amor e a leveza em ver a vida foram as lições que Jonatas deixou para a família, os amigos e todos que passaram pelo seu caminho em algum momento. Para Alessandra, as lembranças de momentos felizes jamais serão esquecidas.
"Infelizmente, ele se foi. O que resta agora para a gente é a saudade e as lembranças de coisas boas que ele fez, momentos felizes que passamos juntos, a alegria que ele transmitia para a gente", finaliza.
Para a filha Isabela, são os pequenos momentos que fazem com que a lembrança do pai jamais seja esquecida.
"Ele sempre assistia séries e filmes comigo porque nós dois gostávamos de ficção cientifica .Eu sinto falta de quando agente saía para caminhar, ele a pé e eu de bicicleta .De quando gente ficava no escritório dele... Eu sinto muito falta dele e é difícil acreditar que eu nunca mais vou vê-lo", diz.
Meu irmão Jonathan, trabalhamos no CDP de Piracicaba, fui ao seu casamento, sempre mantivemos contato, muitas histórias nas gaiolas e galerias da vida, e tantas outras fora do Sistema. Quando recebi a notícia de seu falecimento, foi um baque, tínhamos conversado pouco antes de ser internado, falamos sobre sua demissão covarde pelo Estado e na fé de que um dia ainda estaríamos juntos no Sistema e que ainda iríamos rir muito disso e comemorar no Broa aqui em Itirapina, como fazíamos no passado. Não me conformo de forma alguma, perdemos um grande companheiro de serviço, um amigo exemplar, um ser humano sem igual. Jamais te esqueceremos meu irmão.
ResponderExcluirQual foi o motivo da exoneração do agente de segurança penitenciária Jonatas batista?
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