09 dezembro 2014

Carta liga líderes do PCC ao controle de lotações em São Paulo


Ministério Público Estadual (MPE) e Polícia Civil têm cópia da documentação e apuram delitos em cooperativas das zonas Sul e Leste da capital paulista


Penitenciária Presidente Venceslau (Alex Silva/AE/VEJA)

Uma carta apreendida na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, a 611 quilômetros de São Paulo, indica que a cúpula máxima do Primeiro Comando da Capital (PCC), a facção que comanda o tráfico de drogas em São Paulo, aplica parte do dinheiro do crime em lotações das cooperativas da São Paulo Transporte (SPTrans), da prefeitura. Até agora, apenas casos de membros hierarquicamente inferiores da facção haviam sido relacionados ao sistema municipal de transportes.



O Ministério Público Estadual (MPE) e a Polícia Civil têm cópia da documentação e apuram delitos em cooperativas das zonas Sul e Leste da capital. A gestão Fernando Haddad (PT), que comanda a SPTrans, afirma que colabora com as autoridades sempre que solicitada. A administração estuda excluir de vez o modelo de cooperativas da concessão do transporte público da cidade.

A carta que mostra a ligação da cúpula da facção com a SPTrans foi descoberta por carcereiros em maio de 2012. Ela dá a entender que Roberto Soriano, o Tiriça, tinha um lotação e o doou para outro membro da facção, Daniel Vinicius Canônico, o Cego. Este, por sua vez, também tinha uma van, mais antiga, e recebeu ordem de vendê-la após ganhar o novo veículo do colega. O dinheiro da venda iria para o PCC. Não há, na carta, referência exata sobre qual era a cooperativa em que esses lotações operavam.

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Tiriça é um preso tão importante para o PCC que foi destacado, segundo o Ministério Público Estadual (MPE), para negociar a paz entre a quadrilha e as facções cariocas Amigos dos Amigos (ADA), Comando Vermelho (CV) e Terceiro Comando (TC). Cego já foi flagrado em escutas telefônicas planejando sequestro de autoridades paulistas, também segundo investigações do MPE.

Ambos integram a chamada "Sintonia Fina Geral" - grupo de sete pessoas que respondem apenas a Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo da organização. Segundo o MPE, a facção tem 7.600 integrantes e fatura cerca de 120 milhões de reais por ano.

Despacho – A carta apreendida é um "salve" – conjunto de ordens da cadeia para a rua. Continha uma série de comandos: de indicações de indivíduos que deveriam assumir ações do grupo a dicas para refino de cocaína, passando por uma lista de policiais a serem mortos. Sobre a SPTrans, depois de explicar seu plano, Tiriça escreveu: "O parceiro (um outro colaborador da facção) me falou que a SP Transporte não aceita pegar um carro de um protocolo e colocar em outro protocolo, mas esses caras da cooperativa, meu amigo, só vão no acelera mesmo", referindo-se a como proceder com a transferência.

Um mês depois de a carta ter sido descoberta, em junho de 2012, o secretário estadual da Administração Penitenciária, Lourival Gomes, escreveu um despacho relatando o caso – e uma série de outros crimes combinados na carta – e pediu a internação de Tiriça no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) de Presidente Bernardes, a 580 quilômetros da capital paulista.

"O que se questiona é como os presidiários, que estão recolhidos no cárcere há muitos anos, conseguem adquirir ônibus? A resposta é clara. Tal é possível graças ao tráfico de entorpecentes e a existência de delinquentes dispostos a auxiliá-los nesse comércio", escreveu o secretário, em seu despacho. Atualmente, Cego está no RDD em Presidente Bernardes. Tiriça foi transferido, a pedido do governo paulista, para o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e cumpre pena na Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia.

(Com Estadão Conteúdo)

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