29 abril 2019

" Pai, quando você não vai mais precisar partir ? "






Marcelo Augusto
29/04/2019


Luciano sonhava em se tornar servidor público, ser agente penitenciário no estado em que reside. Seu sonho foi concretizado e a emoção de vestir aquela camisa pela primeira vez finalmente se tornou realidade. 


Sabia que trabalharia um tempo fora, longe da família e amigos, mas tinha ciência do aprendizado adquirido pela experiência vivida num lugar com maior grau de perigosidade. Aceitou e partiu, com a esperança de voltar em três a cinco anos, um longo tempo, porém, aceito tacitamente. 


Os anos se passaram, um, dois, três, quatro, cinco, seis... resolveu não levar a família pelo risco e o salário baixo, impossível alugar uma casa descente, custo de vida alto e a criminalidade nas periferias, sua vida bastava ser posta em risco, sua esposa e filho não. É, ele teve um filho nesse tempo, que não vê a hora de ter o pai trabalhando próximo de casa.


Sempre dedicado e orgulhoso pelo trabalho, honra a camisa que veste. No entanto, o tempo e as dificuldades financeiras devido ao aumento dos custos ( combustível, pedágios, aluguel...) não acompanharam o salário congelado, a distância de casa o acometeu com uma doença, não foi grave, mas seu psicológico chegou ao limite. Como se não bastasse o stress da profissão, mas um desafio a enfrentar.


"Luciano honra a camisa que veste, enche o peito ao dizer que é agente penitenciário, dá seu melhor e destaca no trabalho."


Certo dia encontrou um velho amigo de profissão, numa prosa descobriu que o local no qual quer ser transferido falta dezenas de funcionários, mal conseguem tocar o plantão, o que por vista é arriscado a segurança. Se faltam, por que não o transferem ?



A conversa se encerrou e o Luciano retornou para sua casa, era dia de viajar ao trabalho, a angustia e ansiedade após 09 anos no longínqua espera se tornou um pesadelo. Liga para a esposa que estava no serviço, seu trabalho ajuda complementar a renda,  e deixa seu amado filho em sua mãe, com lagrimas reprimidas vê o filho triste no portão aos prantos de lagrimas  que o pergunta: 


- Pai, quando você não vai mais precisar partir ?




É duro, cruel e doloroso. O que dizer a essa inocente criança que clama por ter seu pai trabalhando próximo de casa, num lugar que há vagas, que há excesso de trabalho, que há agentes interessados em ser transferidos. Quantas partidas terão que suportar em quase uma década na bendita lista de transferência, estagnada. 



Quantos "Lucianos" ( um personagem fictício ?)  temos no sistema, quantas mães temos longe de seus filhos, quantos comprometem sua saúde trabalhando o dobro ou triplo se arriscando na segunda profissão mais perigosa do mundo, e por descaso, acaba sendo a primeira, não veem a hora de chegar mais efetivo. Eu não sei que vai ler esse texto, se quem pode mudar isso o lerá, se uma nuvem de consciência o motivará a mudar isso,  só sei que meu(s) irmãos(ãs) o lerão, sejam fortes ! 






24 comentários:

  1. Sou mais um Luciano a 11 anos na mesma angústia, ainda não me afastei por doença, mas não sei se vou suportar mais esta vida de viagens

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  2. Pois é, para mudar é preciso UNIÃO, eu vejo muito ASP é AEVP, reclamando na internet, mas na hora de se mobilizar para um paralisação, ou para ir a Brasília pedir aprovação de uma PEC vem as desculpas.... Não posso pq não tenho como deixar o bico, ou... Não da pq não posso deixar de ir ver minha família no interior, ou... Agente não pode fazer greve.... Ou.... E o sindicato não faz nada? ..... Ou ... Ah... Se pararmos vai sobrar pra gente.. Ninguém para... Pq vou parar?
    Enfim... Desculpas não faltam... Tá cheio de torcedor esperando meia dúzia queimar a cara... Ai se der certo todo mundo reparte o bolo, se der errado só essa meia dúzia que roda... Então... Enquanto esse povo não virar HOMEM E CRIAR VERGONHA NA CARA, vai continuar como esta! Depois choram pq não conseguem voltar pra casa.

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  3. Triste realidade de muitos, infelizmente e parece q ninguém mas ninguém faz nada pra mudar, sindicatos morosos tb estagnados como os salários. É difícil

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  4. sou mais um Luciano tambem, esquecido a 560km de casa...
    10anos longe.. e a lpt nunca roda..
    ai vc afasta e o pessoal critica.

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  5. Sou mais um luciano foeça e honra,tenho fé em Deus que isso um dia mudará

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  6. A política de transferência é cruel, isso desmotiva, adoece, enfraquece um corpo funcional lutador, torna bravos homens e mulheres reféns de uma escolha, a escolha de servir, falta empatia e humanidade ao responsavel pela gestão de pessoas. Pq o responsável é uma pessoa e não uma máquina, pergunto essa política beneficia alguém? Evidente que não.

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  7. Meu filho conta nos dedos os dias é de parti o coração .

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  8. Eu e muitos mais é um Luciano á mais de 9 anos longe de casa e nada de voltar para nossa casa nossa família..

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  9. Sou mais entre milhares de Lucianos existentes nesse vale de lágrimas. Sabia dos riscos mas resolvi tentar. Agora me vejo de licença pois como muitos não aguentei o baque de separar da familia. Só quem passa pra saber. Muitos dirão que é frescura e capricho, mas só quem sofre na pele pra sentir e se colocar no lugar do outro. Será que um dia teremos o BASTA?

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  10. Não aguentei as viagens,trouxe minha família pra perto,pq sei que ia exonerar,minha vida é outra agora, sim é difícil,mais oro a Deus todos os dias,pra que olhem por nós...

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  11. Esse texto diz a minha realidade e triste honrar a camisa e deixar minha família,porque não inaugura os cdps que estão prontos

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  12. Vivo a mesma coisa, amanhã retorno ao trabalho e só volto pra casa caso consiga uma troca de plantão.

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  13. Na hr que li a frase, ja vi minha filha falando em pensamento. Graças a Deus,vim p Pacaembu, que Deus adiante a vinda dos demais q aguardam. 🙏

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  14. O pior é quando se vê a possibilidade real de trabalhar em casa ou do seu lado, vem o governador dizer que vai privatizar,(alvaro e 2 galia), como ficam meus 8 anos fora e esperando vir pra casa, é pra acabar.

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  15. O pior é quando se vê a possibilidade real de trabalhar em casa ou do seu lado, vem o governador dizer que vai privatizar,(alvaro e 2 galia), como ficam meus 8 anos fora e esperando vir pra casa, é pra acabar.

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  16. Lucianos, façam como eu, tragam a familia pra perto de vcs e sejam felizes ou mantenham-se longe e adoeçam

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  17. Como isso é dificil. Mais de 7 anos longe de casa, longe da mulher e filhos, isso desanima o guarda. Vem LTP de Lavinia.

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    1. Típico funcionaleta público, quer encostar perto de casa, pescaria, bar só esperar aposentadoria. Tá bom! vai chega!

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  18. Realidade triste só quem passa sabe a dor que é deixar familia , filhos , dias longe de casa ,dormindo mau se alimentando mau sem apoio nenhum , sem reconhecimento algum triste .

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  19. To em prantos aqui... dói muito toda vez ouvir isso... toda vez chorar... toda vez sentir seu mundo desabar...

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  20. ACHO ESTA DEMANDA JUSTA E PQ NÃO ACIONAM O MINISTÉRIO PÚBLICO DE DIREITOS COLETIVOS E ATÉ O DE SAÚDE.

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  21. Dia 6 é a hora guerreiros, vamos nos juntar e ir na frente da sap tentar melhorar nossas condicoes.. contra as ppp, lpte galia 1 e 2 ja, ou vcs querem continuar anos passando por isso?? Ouvindo seus filhos perguntando pq esta indo viajar.. depende somente de nos, e vamos tomar vergonha na cara , se nao resolver,vamos parar, greve branca, seguiremos a lep,vamos ver q cadeia q roda se seguirmos a risca, banho de sol, 2 horas, nenhum asp dirige,os que tiverem coragem descam do adm e vao pra carceragem,jumbo revistado a risca, vamos ver, passar 10 visitas por hora,quero ver se nao chacoalha a cadeia.. sera que o governo esta preparado pra isso??? Depende somente de nos mesmos... Dia 6 todos na frente da sap!!!!

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  22. Hoje, só consegue voltar para casa quem tem união de conjuges (sou totalmente contra, já digo de passagem) e quem fica arrumando confusão com problemas pessoais... quem trabalha direito está esquecido e amargando com a espera dessas benditas LPT´s .... somente os filhos e DEUS para nos dar força mesmo !

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