16 abril 2018

Responsável por morte de chefões do PCC, Fuminho fornecia armas e drogas para facção



Fuminho, fornecedor de armas e drogas para o PCC - Reprodução



SÃO PAULO - O histórico criminal do homem implicado em um dos crimes de maior repercussão no país este ano não passa de mirradas duas folhas e meia de papel sulfite — boa parte delas preenchida com imagens de documentos falsos e uma fotografia antiga. A baixa quantidade de informação disponível sobre Gilberto Aparecido dos Santos, conhecido como Fuminho, não é resultado da escassez de crimes cometidos, mas da façanha de ter vivido nas sombras desde que fugiu do extinto presídio do Carandiru, em São Paulo, em 1999. Segundo a polícia, Fuminho vive na Bolívia e é o maior fornecedor de armas e pasta de cocaína para o PCC, o Primeiro Comando da Capital, a maior facção criminosa do país.


Este quase desconhecido é apontado pela polícia como um dos responsáveis pelos assassinatos de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, em fevereiro passado, no Ceará. Os corpos de Gegê e Paca foram encontrados num sábado, 17 de fevereiro, por um índio que coletava murici numa reserva em Aquiraz, na região metropolitana de Fortaleza. Procurados pela polícia, Gegê e Paca eram os dois mais poderosos chefes da facção em liberdade. Suas mortes indicam que há uma cisão na organização.

— Fuminho é o cara do dinheiro, o que paga para matar — diz um delegado que investiga a facção. — Ele tem um cartel na Bolívia. Tem influência na polícia e no governo.




Autoridades acreditam por enquanto que Fuminho agiu com o aval de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder maior da organização e preso na penitenciária de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo. Para integrantes do bando, no entanto, Fuminho é o único mentor do crime — e fez isso à revelia de Marcola.

Dois dias depois do assassinato, quando as investigações ainda começavam, o nome de Fuminho já corria na boca de amigos e familiares que velavam Gegê e Paca no cemitério do Redentor, na zona oeste de São Paulo. No dia seguinte, um bilhete deixado na frente da penitenciária 2 de Presidente Venceslau, onde está presa a cúpula da facção criminosa, apontava Fuminho como mandante do crime. Como presos não se descuidam no trato de uma informação tão valiosa, tanto criminosos quanto investigadores dizem que o papel foi plantado ali. Fuminho e seus comparsas estão sendo caçados tanto pela facção quanto pela polícia.

Há muito tempo a polícia só tem informações esparsas de Fuminho. Ele usa dois documentos falsos: ora é Luiz Gilberto Bertolino de Lima; ora, Gilmário Dias de Souza. Sob uma das identificações, tirou habilitação de arrais amador, para conduzir embarcações. Sua foto mais recente foi tirada há cinco anos numa festa.

De acordo com investigadores, Fuminho sumiu com suas fichas dactiloscópicas (o registro de impressões digitais) disponíveis no país. Aos 47 anos, nascido em São Paulo, ele vem ao Brasil vez ou outra, mas só a estados onde é menos visado, como Mato Grosso e Minas Gerais. Vive na Bolívia, onde planta coca, a matéria-prima da cocaína, em suas fazendas na província de Chapare, ao norte de Cochabamba.

FATURAMENTO MILIONÁRIO

Fuminho nunca foi batizado pela quadrilha. É influente por ser um de seus maiores fornecedores de matéria-prima. Em 2016, a polícia apreendeu na zona Leste de São Paulo duas máquinas de Fuminho que embalavam 150 mil papelotes de cocaína por dia. Nos cálculos de um investigador, Fuminho mandava cerca de duas toneladas de pasta-base de cocaína por mês só para a facção. Num laboratório na capital paulista, a substância era transformada em cerca de seis toneladas da droga.





Ao chegar às “padarias” da facção, onde os bandidos acrescentam impurezas para aumentar o volume, a droga era multiplicada para em torno de dez toneladas a serem vendidas no varejo no estado de São Paulo. Cada quilo de cocaína é vendido a cerca de R$ 30 mil. Com uma remessa mensal, portanto, Fuminho girava cerca de R$ 300 milhões. Sem contar o volume vendido para traficantes independentes e o exportado para Europa.

Foi uma guerra de caráter comercial que, segundo investigadores, motivou a morte de Gegê e Paca. Até Gegê sair da prisão, Paca era o mais importante membro do bando fora da cadeia. Vivia na Bolívia e era braço direito de Fuminho no controle das remessas de drogas para o Brasil. Quando foi libertado após uma polêmica decisão da Justiça paulista num processo de homicídio, em fevereiro do ano passado, Gegê foi para a Bolívia. Aportou por lá com função semelhante à desempenhada por Fuminho, e tentou isolá-lo. Gegê não só se empenhou em tomar os fornecedores de Fuminho, como atrapalhou suas relações com o Exército local.

Além disso, ao levar comparsas estranhos para a região, Gegê do Mangue começou a chamar atenção da polícia boliviana. Oito meses antes das mortes, um informante contou às autoridades locais que Fuminho mandara um recado para Marcola na cadeia. Reclamava que Gegê estava atravancando seus negócios na Bolívia. Era um aviso de seus planos futuros.



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